The Shins – Port of Morrow

The Shins vai mudar a sua vida. Pelo menos foi o que Natalie Portman nos prometeu no filme Garden State (que no Brasil recebeu a horrorosa tradução Hora de Voltar), meu primeiro contato com essa banda americana que durante anos representou o que a música independente tinha de melhor para oferecer. E se o som escutado não era necessariamente o tipo de música que altera radicalmente a vida de uma pessoa, existia algo de diferente, de original em suas melodias que sugeriam uma honestidade difícil de se encontrar na indústria fonográfica atual. Mesmo assim, o grupo lutava para romper a espessa barreira que divide o indie do pop.

Somente em 2007, com Wincing the Night Away, The Shins começou a demonstrar que tinha a habilidade de elaborar músicas capazes de capturar a atenção de um mercado mais abrangente. Cinco anos depois, eles chegam com Port of Morrow, o trabalho mais pop da relativamente pequena discografia da banda. Se isso vai ser o suficiente para fazer com que o grupo receba o reconhecimento que merece, só o futuro vai dizer. Mas fica claro logo na música de abertura, The Rifle’s Spiral, que estamos diante de um The Shins diferente.

Repleta de inserções eletrônicas, guitarras dissonantes e vozes distorcidas, nem parece que estamos diante de uma canção da mesma banda que embalou o mercado independente americano durante a década passada. Esse é um grupo novo (literalmente, pois alguns integrantes foram subsituídos). Um grupo determinado a sair das sombras que sobrevoaram sua carreira até então.

E para alcançar seu objetivo, The Shins não poupa esforços. Eles investem em baladas emotivas como It’s Only Life, palminhas contagiantes em No Way Down e refrões de fácil absorção, como Bait and Switch e o ótimo Simple Song. Esta última é uma canção apoteótica, que cresce gradativamente até atingir seu refrão viciante e que poderia facilmente figurar no playlist de qualquer rádio popular do mundo. Existe até mesmo espaço para uma surpresa na excelente faixa título, uma canção deliciosamente inesperada que está entre as minhas favoritas do álbum.

Concordo que Natalie Portman exagerou um pouco quando fez sua promessa. Mas se The Shins não tem a capacidade de mudar a vida de ninguém, ele pode, pelo menos, transformá-la em algo mais suportável.

Fiquem com Simple Song, primeiro single de Port of Morrow.