The National: High Violet

O sugestivo título e a rica paleta de cores que estampa a capa do novo trabalho do grupo americano The National pode até enganar o mais incauto dos ouvintes. Mas não há nada de colorido ou de esperançoso em High Violet. Se existe algo que prevalece durante toda a execução da obra é o monocromático tom gris da melancolia. Só que, ao contrário do que acontece com alguns grupos que se destacam ao lançar álbuns tristes e contemplativos, The National não tem vergonha e nem faz questão de deixar de ser triste. Ame-o ou deixe-o, esse é o som que eles sabem fazer. Em uma entrevista recente, o vocalista Matt Berninger declarou que a intenção da banda era realizar um trabalho divertido e descontraído. Ele diz até ter escrito a palavra “Happiness” em um papel e colado o mesmo na parede do estúdio. Mas não demorou muito para que os rapazes de Ohio se desviassem desse trajeto.

O álbum abre com a pungente Terrible Love, uma canção que chega a flertar com um tom mais leve, se apoiando em uma guitarra convidativa e um belo coral de fundo. Mas, à medida que progride, ela vai mostrando os afiados caninos da tristeza, se transformando em uma melodia soturna e angustiante. Já na próxima música, Sorrow, a banda parece tentar se explicar ao dizer “Sorrow found me when I was young”. Não adianta o grupo brigar para ser algo que não é. “Sorrow waited, sorrow won”. Na batalha entre luz e escuridão, as sombras acabam vencendo.

Anyone’s Ghost, terceira faixa de High Violet, é o mais próximo de diversão que The National consegue chegar. Talvez por isso seja a música mais curta. Uma batida pegajosa garante um breve momento de descontração, mas a tristeza ainda se esconde nas entrelinhas. E retorna com enorme força na sombria Little Faith, canção que se apoia em um soturno piano e um belo violoncelo que pontuam toda música.

O ponto alto do álbum chega a partir de Afraid of Everyone, música hipnotizante que discorre sobre o constante medo e a falta de confiança que se instalou na sociedade atual. Melodia ideal para dar passagem para aquela que considero a mais intimista e contundente do álbum. Bloodbuzz Ohio é uma viagem ao passado, mas um passado nem um pouco nostálgico ou caloroso. Uma catarse dolorosa que explode em um dos mais belos refrões da música pop americana. “I still owe money, to the money, to the money I owe. I never thought about love, when I thought about home”.


Em Runaway, talvez a mais triste de todas, um violão sofrido dá o tom para uma melodia que arranca lágrimas até do mais gelado coração. Nela, Berninger insite que o conformismo é, muitas vezes, o melhor caminho a ser seguido. Não por ser o mais fácil, mas o menos doloroso. “We don’t bleed, when we don’t fight. Go ahead, go ahead, throw your arms in the air tonight”. Uma canção que acaba servindo de lema para o estilo musical que a banda insiste em investir.

Afinal música não pode, nem deve, ser única e exclusivamente alegre e festiva. Existe sempre espaço para destilar nossas inseguranças e anseios em melodias melancólicas e dolorosas. São nelas que exorcizamos nossos problemas e afogamos o nosso sofrimento. Fugir e se esconder por trás de ritmos dançantes é o mesmo que tentar curar uma queimadura com um sopro. O alívio é momentâneo. Mas quando a dor volta, ela volta mais intensa. Abraçar o sofrimento, muitas vezes, é a melhor forma de acelerar a cicatrização. Como já diria o mestre Chico Buarque, “é melhor sofrer em dó menor do que sofrer calado”.